Para Platão, não há ciência sem o uso da dialética. A ascensão dialética é a base de seu dualismo e de seu entendimento sobre o que é o conhecimento científico. O filósofo, influenciado pelos pensadores eleatas, identificara uma clara distinção entre o permanente e o transitório, afirmando a superioridade do primeiro em relação ao segundo. De acordo com seu dualismo, Platão concebida o mundo fenomênico como uma cópia imperfeita do mundo suprassensível, e uma vez que os objetos materiais estão sujeitos ao devir, por si só não possui nenhum valor científico. No entanto, a realidade sensível, ao contrário de ser meramente desprezada, possuía um grau de valor a partir do momento que esta leva o indivíduo a transformar a materialidade em conceitos e noções.
O filósofo ateniense nos seus diálogos, em especial na República, no Fédon e no O Sofista, vai discorrer com seus interlocutores como de fato pode se fazer ciência. Para compreender o que Platão concebe como ciência, é imprescindível ter o entendimento de como ocorre a ascensão dialética e a divisão que o mesmo faz sobre a realidade empírica e inteligível. O fundador da primeira Academia grega acreditava ser essencial constatar a superioridade às Ideias sobre os objetos sensíveis justamente pelo fato que a sensibilidade está em constante mudança, enquanto as Ideias, habitantes do mundo suprassensível, permaneceriam imutáveis e, portanto, esta deveria ser o objeto de uma investigação segura, sem estar correndo o risco que deixar cair-se no engano ocasionado pelas sensações.
Teeteto — Perfeitamente.
Estrangeiro — Porém tenho certeza de que não atribuirás essa capacidade dialética senão a quem souber filosofar com pureza e justiça.
Teeteto — Como atribuí-la a mais alguém?
A alegoria da caverna, retratada na República, representa as etapas do processo dialético rumo ao conhecimento verdadeiro. Como já foi dito, Platão distingue dois tipos de saberes, o sensível e o inteligível, que se subdividem:
• As sombras: Aparência sensível dos objetos;
• As marionetes: Representação própria dos objetos empíricos;
• O muro: O limiar que separa os dois tipos de conhecimento;
• O exterior da caverna: A realidade das ideas;
• O sol: Suprema ideia do bem.
Platão, através da narrativa do mito da caverna, demonstra que as coisas do mundo sensível são apenas ilusões, e que para contemplar as Ideias só é possível através da reflexão, do raciocínio, do pensamento. Em suma, Platão demonstra a passagem do conhecimento meramente opinativo (dóxa) para o conhecimento científico (epistéme) que só seria alcançado mediante a dialética que engloba tanto o saber matemático quanto o filosófico. Tendo em vista que o conhecimento científico só é alcançado através da dialética, o filósofo clássico, é persistente em suas críticas ao modelo educacional sofístico que, de acordo com seu pensamento, corrompia toda a sociedade grega, dado que os sofistas ensinavam sem o compromisso com a verdade, baseados apenas na mera opinião, possuíam a capacidade de lecionar a respeito de tudo (desde que recebessem uma remuneração financeira proporcional ao assunto que pregavam saber.).
Estrangeiro — [...] Destaquemos, então, da arte de se parar a de purificar; da de purificar, a parte que se relaciona com a alma; desta a do ensino, e da do ensino a arte da educação. Na arte da educação, conforme já vimos de relance, a refutação das vãs ostentações de sabedoria nada mais é do que a sofística de nobre nascimento.
Os filósofos, diferentemente de meros oradores persuasivos, ao ascender dialeticamente, contemplavam a essência de todo o conhecimento, a verdade absoluta. Desse modo, através da ótica dualista platônica, o ensino tem como objetivo buscar e revelar a unidade na multiplicidade no interior da argumentação esforçando-se racionalmente, exigindo critérios argumentativos fidedignos rumo ao conhecimento verdadeiro, sem o intuito de convencer o interlocutor de determinado ponto de vista, mas que ambos, o orador e o ouvinte, possam juntos contemplar as Ideias.
Os sofistas visavam apenas a polêmica, a remuneração financeira, e a persuasão dos ouvintes, levando até as últimas consequências o domínio da linguagem. Estes utilizavam o conhecimento apenas com fim de ganhar algo em troca, sem o menor interesse em informar os ouvintes, de maneira que convenciam seus interlocutores através de um discurso encantador sem zelar propriamente com o conteúdo no interior da exposição. Platão, em seu diálogo O Sofista, designará o modo no qual é possível perceber quando o orador tem o compromisso com a verdade ou não:
Teeteto — Sem dúvida nenhuma.
Estrangeiro — E a modalidade que promete ensinar a virtude por meio da conversação e que se faz pagar em espécie, não merecerá, como gênero à parte, denominação especial?
Teeteto — Como não!
Estrangeiro — E que nome há de ser? Não te disporás a achá-lo?
Teeteto — E muito fácil. Acho que encontramos o sofista. Designando-o desse modo, penso atribuir-lhe o nome mais acertado.
Devido à adulação que os sofistas utilizavam em seus discursos, estes não se comprometiam com a ética envolta da retórica e comunicavam somente ilusões, enquanto a verdadeira retórica, a dialética que ascendia ao mundo suprassensível, contemplava o sumo-bem, o conhecimento científico de todas as manifestações existentes na realidade fenomênica, permitindo, desse modo, que a parte racional do ser ordene a alma. Isto, com efeito, só poderia ser alcançado pelo filósofo rompendo com os laços que o prendem a sensibilidade, enquanto os sofistas, presos “nas trevas do não-ser”, jamais conseguiriam conhecer a unidade essencial que envolve a realidade. Como Platão, demonstra no diálogo entre o Estrangeiro e Teeteto, o conhecimento científico é uno:
Teeteto — Perfeitamente.
Estrangeiro — O mesmo se passa com a natureza do outro, conquanto, seja apenas uma.
Resumidamente, para Platão a ciência é a dialética, e o filósofo sendo dialético é cientista a partir do momento que investiga a natureza das coisas acessando-as por meio da intelecção pura.

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