Aristóteles, insatisfeito com a explicação de seu mestre, Platão, acerca da participação
das coisas materiais em relação as formas suprassensíveis, dedicou algumas considerações
sobre o seu método em seu livro Física I-II, nesta obra buscou desenvolver seus estudos sobre
as questões das causas últimas e um novo tipo de saber acerca da natureza. Tendo como objeto
de estudo o “ser”, buscava compreender tudo o que existe e todas as formas de manifestações
específicas do ser.
Nesse sentido, difere fundamentalmente das explicações sobre a investigação científica de sua época. A sua discussão acerca dos princípios e das causas abordará uma relação de como as coisas são, como elas se organizam além da existência material do mundo. Dessa forma, refletirá sobre a função das ciências na investigação dos princípios, as causas e natureza do ser.
De forma sistemática Aristóteles irá buscar traçar um ponto de partida de toda
investigação, que é a apreensão do conhecimento, no qual é dado pelo mais cognoscível a nós,
ou seja, o conhecimento deve partir da manifestação de algo fenomênico, aquilo que nos
aparece, assim, percorrendo ao que é mais cognoscível por natureza, esse procedimento de
investigação constitui de forma constante chegar até que o objeto seja “conhecido por si
mesmo”, isto é, por sua própria natureza, sua essência. Desse modo:
[192b 8] entre os entes, uns são por natureza, outros são por outras causas; por natureza são os animais e suas partes, bem como as plantas e os corpos simples, isto é, terra, fogo, ar e água (de fato, dizemos que essas e tais coisas são por natureza), e todos eles se manifestam diferentes em comparação com os que não se constituem por natureza, pois cada um deles tem em si mesmo princípio de movimento e repouso, [...] pois a natureza é certo princípio ou causa pela qual aquilo em que primeiramente se encontra se move ou repousa em si mesmo e não por concomitância;
[192b 32] Natureza é isso que foi dito; por sua vez, tem natureza tudo quanto tem tal
princípio. Todas essas coisas são substância, pois são um subjacente,
e a natureza sempre reside num subjacente. São “conforme à natureza” tais
coisas e tudo que lhes pertence devido a elas mesmas — por exemplo, para o
fogo, locomover-se para o alto: de fato, isso não é natureza, nem tem natureza,
mas é por natureza e conforme à natureza.
Nesse sentido, para seguir o método de investigação proposto pelo filósofo estagirita, é
preciso ter o conhecimento estrito do objeto em exame, que inclui compreender suas causas,
em outras palavras, é preciso passar das noções vagas e mutáveis do próprio ser e tentar
compreender o que é mais essencial, dessa forma, esse processo passa pela discussão das
opiniões (dóxa), ou seja, crenças, para alcançar um conhecimento epistêmico, verdadeiro ou
até mesmo definições absolutas e imutáveis.
[184a 10] Dado que, em todos os estudos nos quais há princípios (ou causas, ou
elementos), sabemos (isto é, conhecemos cientificamente) quando reconhecemos
estes últimos (pois julgamos compreender cada coisa quando reconhecemos suas
causas primeiras e seus primeiros princípios, bem como seus elementos),
evidentemente devemos, de início, tentar delimitar também o que concerne aos
princípios da ciência da natureza.
[184a 16] Tal percurso naturalmente vai desde o mais cognoscível e mais claro para
nós em direção ao mais claro e mais cognoscível por natureza, pois são as mesmas
coisas que são cognoscíveis para nós e cognoscíveis sem mais. Por isso, é necessário,
desse modo, proceder das coisas que, apesar de serem menos claras por natureza, são
mais claras para nós, em direção às mais claras e mais cognoscíveis por natureza.
A noção de natureza em Aristóteles implica basicamente na noção das causas materiais e formais, no qual ele sustentará sua seguinte afirmação: “Todas as coisas particulares da natureza têm sua forma e são compostas de matéria”. Por conseguinte, diante dessa observação minuciosa da natureza, dentro de uma perspectiva hilemorfista, que, segundo Aristóteles, vai dizer que ser seres corpóreos são compostos por matéria (pura potencialidade), ou seja, a matéria de uma cama, por exemplo, pode ser madeira, no qual a matéria é um princípio indeterminado do ser, porém esta tem a possibilidade de se moldar em qualquer forma, está em constante movimento e os seres corpóreos são constituído de forma, ou seja, é aquilo que faz o ente ser o que é, no qual a forma é princípio determinado do ser em ato. Nessa perspectiva aristotélica, podemos dizer a forma é imaterial e é o que determina o modo de ser da matéria, ou seja, a substância seria o constituinte metafísico que compõe as coisas fenomênicas, as formas e as características específicas de cada coisa. A natureza do ser corresponde as condições de devir e permanência, tudo o que existe faz uma passagem de potência em ato, a realidade muda, por isso, todas as coisas naturais são atos, isto é, a própria existência do ser e potência, ou seja, o que pode vir a ser, desse modo, sendo a matéria sempre é a mesma, o que muda é a forma e os acidentais. Elas estão sempre unidas, quando a matéria é concebida, ela já possui forma. Contrariamente, ela sem forma não pode ser concebida por meio da sensibilidade, porque ainda não é. A partir daí que, uma vez que a própria matéria está contida de forma, a realidade empírica, se tornará para Aristóteles um campo de estudo.
[193a 28] Assim, de certa maneira, denomina-se natureza a primeira matéria que subjaz a cada um dos que possuem em si mesmos princípio de movimento ou mudança; mas, de outra maneira, denomina-se natureza a configuração e a forma segundo a definição. De fato, assim como se denomina “técnica” aquilo que é conforme à técnica e que é artificial, do mesmo modo também se de nomina “natureza” aquilo que é natural e conforme à natureza. Naquele caso, quando algo é cama apenas em potência, mas ainda não tem a forma da cama, ainda não dizemos que se tem conforme à técnica, nem que há técnica, tampouco no caso dos que se constituem por natureza: a carne ou o osso em potência não têm ainda sua natureza própria, nem são por natureza, antes de assumir a forma, a que é conforme o enunciado pelo qual dizemos, ao defini-los, o que é a carne ou o osso.
[193b 3] Por conseguinte, de outra maneira, a natureza dos que possuem em si
mesmos princípio de movimento é a configuração e a forma, que não é separável a
não ser em definição (o composto de ambos, por sua vez, não é natureza, mas sim por
natureza — por exemplo, homem).
[193b 6] E esta — a forma — é natureza mais do que a matéria, pois cada coisa
encontra sua denominação quando é efetivamente, mais do que quando é em potência.
[193b 8] Além disso, um homem provém de um homem, mas uma cama não provém
de uma cama: por isso, dizem que sua natureza não é a figura, mas a madeira, porque,
se algo brotasse, surgiria não uma cama, mas madeira. Mas, então, se isso é técnica,
também a forma é natureza, pois é de homem que provém um homem.
[193b 12] Além disso, a natureza tomada como vir a ser é processo em direção à
natureza.
A ciência aristotélica começa pela observação da realidade por nossos sentidos, isto é, o conhecimento deve se a partir da realidade sensível, na constatação dos seres concretos, visando atingir a sua essência. Ao observar a matéria e as formas, o indivíduo pesquisador irá compreender que o inteligível está nas próprias coisas e pode ser conhecido através princípios e causas cognoscíveis. Portanto, o inteligível e o sensível existem unidos nas coisas. Desse modo, o discípulo de Platão estabelece condições seguras para admissão de um pensamento, de uma investigação como ciência.
Aristóteles vai deixando para atrás o racionalismo de seu mestre ateniense, estabelecendo noções acerca da realidade empírica. É diante da investigação cientifica metódica da natureza, que o conhecimento obtido pelo intelecto vem mediante das observações das examinadas. O filósofo, diferentemente do fundador da Academia de Atenas, salientou que nada existiria no intelecto que não tivesse sido antes experimentado pelos sentidos. É nesse processo indutivo que realizará a passagem do conhecimento desde os particulares aos universais. Nessa tarefa de investigar cientificamente o estudioso (embora os princípios de cada investigação sejam específicos de cada ser), ele é impelido a buscar conhecer em sentido mais preciso, propiciando conhecimentos seguros que irá garantir o estabelecimento de um saber essencial do objeto em investigação. A ciência aristotélica, especificamente em suas definições é indutiva, no que é dado pela fonte de conhecimento (a experiência) partindo de uma observação fiel da natureza e em direção ao conhecimento de suas causas e princípios. Por uma análise dos aspectos formais da ciência, na busca de discernir as partes implícitas investiga os diversos sentidos e traços dos processos indutivos.
Por fim, cabe à física aristotélica a tarefa de delimitar princípios que podem ser conhecidos. Antes de ser uma disciplina científica, a Física de Aristóteles demonstra que por meio de uma análise minuciosa e racional, proporciona condições de conhecimento das ciências da natureza. Assim, no decorrer de sua obra nada mais indica senão a pluralidade de aspectos pelos quais podemos descrever o conhecimento científico: trata-se, portanto de um conhecimento capaz de explicar o porquê, por conhecer causas, princípios ou elementos.

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