O Mito do deus Apolo

Apolo, do grego Apóllon, não se pode afirmar com certeza a origem precisa do nome do deus grego. Há quem diga que possa ter surgido do idioma dórico, apellaí, ou até mesmo sédo indo-europeu com apelo, que significa forte, se referindo um de seus aspectos.  

O filho de Zeus e de Leto, nasceu no dia sete do mês délfico Bísio, no calendário ático, Elafebólion, já no gregoriano, segunda metade de março e início de abril, no começo da primavera no hemisfério norte. Assim que veio ao mundo, cisnes deram sete voltas ao redor da Ilha de Delfos. Suas comemorações aconteciam no dia sete do mês. As consultas ao Oráculo de Delfos realizavam-se no dia de seu aniversário. Sua sabedoria se concentrava em sete máximas, ligadas aos sete sábios gregos. Sete é, o número sagrado de Apolo. 

Zeus repassou ao seu descendente uma coroa de ouro, uma lira e uma carruagem, que possuía grandes cisnes. O rei do Olimpo ordenou que fossem todos a Delfos, porém os cisnes guiaram seu filho para o país dos Hiperbóreos, que sempre prestaram rigorosos cultos a Apolo, onde permaneceu ao longo de sua fase inicial. Ao passar desse tempo, voltou à Grécia, e, chegou a Delfos com muita felicidade. Até os pássaros cantaram em sua homenagem. Por esse motivo, se comemorava anualmente a vinda do deus. 

O deus Apolo como se conhece popularmente, não se assemelha ao que foi nas suas origens, no período homérico ele ainda é um deus de santuário, rústico e orientalizado. O Apolo Grego, é resultado de uma ampla mistura e refinação de mitos. 

É fruto de uma demorada evolução da cultura e espírito grego, mais especificamente do modo de se interpretar os mitos, para se reconhecer nele, um deus solar, da luz, e suas flechas pudessem ser comparadas ao sol e seus raios. No princípio estava ligado com a lua e comportava-se como um deus vingador com suas flechas fatais. O Apolo depois do período homérico vai pouco a pouco reunindo aspectos de diversas culturas, extinguindo o até então o deus sol, Hélio. Combinando, numa só pessoa e em sua base mítica, influências e papéis diferentes, o deus de Delfos se torna uma mistura de várias divindades. Ele substituiu de forma atroz as divindades helênicas, por exemplo, o deus-rio Ismênio. O deus-sol além de superar, harmonizar e canalizar um ideal de cultura e sabedoria, demonstra o processo de evolução cultural de um povo..  

Apolo é citado na literatura com cerca de mais de duzentas características, que o propõe como, um deus-agrário, e das lavouras contra as pragas, ele zela pelos campos com seus rebanhos e pastore, de que é, uma divindade protetora. O filho de Leto defende os campos e seu rebanho contra os lobos. 

Suas obras positivas, não se estende apenas ao campo: ele também é representado por um obelisco ou pilar, em frente as casas e protege as soleiras. Vigia inclusive, quanto os viajantes nas estradas, e nos mares com os navegantes, em sua forma de delfim (golfinho), salva se necessário os marinheiros e tripulantes. Do mesmo modo, é “o que cura”, triunfou em Epidauro, como seu filho Asclépio. Inclusive, curara a peste que ele mesmo enviou aos Aqueus, que lhe acalmaram com sacrifícios e cantando em seu nome, decorrente disso passaram a qualificar Apolo não só apenas como o deus que cura, mas também de ação de graças. 

Médico poderoso, o irmão de Artémis exerce seu dom além da integridade física, ele é um purificador da alma, que extingue as mágoas e infâmias. Fiel intérprete de Zeus, Apolo é um deus oracular, mas as respostas de suas consultas, eram, na maioria das vezes ambíguas, Apolo foi tornado desde o século VIII a.C, em mestre do canto, da música, da poesia e das Musas, com o título de “condutor das Musas”. 

Deus da luz, Apolo é o brilhante, o Sol.  



Junito Brandão - Mitologia Grega. Vol. 2

Cristianismo e Filosofia: A Construção do Saber Cristão.

-No período medieval, a imensa maioria dos intelectuais do Ocidente eram cristãos. Para se ter melhor entendimento a respeito das influências do cristianismo durante essa época nas investigações filosóficas, é necessário compreender o passo a passo da doutrina cristã. 


 -Em suas origens, o cristianismo se depara com uma série de obstáculos, tais como: 

  • Perseguição religiosa. 
  • Conflitos com judeus e pensadores pagãos. 
  •  Divergências internas pelas primeiras heresias.

 

-Em relação ao judaísmo, os cristãos viam sua crença como o aprimoramento, confirmação das revelações divinas e escrituras dos antigos profetas. E diante da filosofia pagã, o cristianismo apresenta o conceito da Trindade, que proclama a união de três entes distintos (Pai, Filho e Espírito Santo), formando um só Deus. 


 -Com efeito, os ideais transmitidos pelo Messias e seus discípulos demonstram um amadurecimento/desenvolvimento do pensamento até então estabelecido, assim sendo, seria inevitável o desentendimento entre a sabedoria semita e pagã durante os primeiros séculos do cristianismo. 


 -"[...] Os filósofos cristãos, por sua vez, consideram o helenismo a expressão mais acabada da cultura antiga. O contraste se estabelece entre Evangelho e sabedoria pagã. Os pensadores cristãos entendem o Evangelho como sabedoria divina, que se dirige à fé, e o helenismo como uma sabedoria humana que fala à razão." (p. 31) 


 -Com os passar dos anos os discípulos de Jesus percorrem todo mundo greco-romano com os ideais do palestino aos gentios. 


 -Mais especificamente com o Evangelho de João (90-110 D.C.), e com as cartas de Paulo (40 D.C.) começa a despontar as primeiras raízes de todo saber dogmático-teológico-filosófico cristão. 

  •  "[...] No Evangelho de João, Jesus é a revelação do próprio logos, que se fez carne humana. Nas cartas de S. Paulo, o Cristianismo adquire consciência de sua missão universal." (p. 32)


- O cristianismo é apresentada e originada pelo Messias como crença, pois é explicito que a iluminação parte de Deus visando suprir o vazio existencial do homem e sua moral. Somente algum tempo depois o cristianismo toma um ar mais filosófico, a partir do momento que os pensadores desejaram entender com um olhar racional a fé, e os mistérios de Deus. 

  • No entanto, os primeiros pensadores cristãos, no tempo em o cristianismo expandiu-se para além das fronteiras palestinas, tiveram que confrontar suas ideias com os filósofos helênicos. 

 -"[...] Roma conquistara o mundo, mas fora incapaz de compreender e assimilar o espírito científico grego. O Cristianismo nasce como religião baseada na fé e na revelação divina, ou seja, estabelece uma hierarquia de vida: " (p. 32)


-O Cristianismo com seus ideais de fraternidade universal, amor ao próximo e a todos igualmente foi desenvolvendo uma firme união e harmonia entre as pessoas e comunidades no mundo teológico-filosófico greco-romano. 

  • "Desde logo rejeita qualquer tipo de compromisso, e apresenta-se como a única escolha possível que exige o homem todo. Desta forma apresenta respostas tanto às necessidades religiosas como às inquietudes filosóficas." (p. 33) 


 -"A doutrina cristã respondeu não só às exigências religiosas e místicas da época, mas também às exigências éticas, sentidas de modo especial no estoicismo: moral simples e clara, fundada em imperativos indubitáveis, aberta a todas pessoas, sem discriminações." (p. 33)


 -São Paulo confrontou duas linhas de pensamento em sua trajetória, a grega e hebraica. Confrontou-se com os judeus que estavam presos às interpretações ortodoxas das escrituras, e também exigiam evidências que legitimasse os milagres do Cristo; 

  •  Já em território grego, mais especificamente em Atenas, centro intelectual da época, Paulo teve de convencer os filósofos estoicos e epicuristas sobre a validade do discurso racional entre a filosofia e a revelação, porém utiliza outro método para certificar seu saber, "[...] Paulo coloca os gregos frente ao absurdo de um Deus morto, ressuscitado e elevado à glória do céu." (p. 34) 
  • "Os judeus pedem sinais, e os gregos procuram a sabedoria; nós, porém, anunciamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos." 1 Cor. 1, 22-23


-Em todo Novo Testamento, apenas Paulo cita a palavra "filosofia" em Colossenses 2,8, pois para ele a verdadeira sabedoria provinha do divino. É nessa passagem pelo território grego que o autointitulado Apóstolo tem como objetivo unificar todo o saber cristão, em uma só doutrina. 

  • "Quando S. Paulo designa "sabedoria deste mundo" refere-se à sabedoria hostil a Deus, pois conhecera a filosofia helênica num momento de crise. Sentiu a oposição entre esta filosofia, e a revelação cristã." (p. 34) 


-Em várias passagens de seus escritos, Paulo deixa claro que a racionalidade é essencial para compreender, conhecer a existência de Deus, e para a busca do verdadeiro saber.


 -”O Cristianismo e a filosofia aparecem, pois, em dois planos distintos, sendo primeiro a religião, uma doutrina de salvação, apoiada na autoridade de Deus e a segunda, produto da razão, com todas imperfeições inerentes à própria natureza humana." (p. 35)


 -No princípio, não havia um consenso entre os pensadores, por exemplo; Porfírio considerava maravilhosa a passagem da paixão de Cristo, porém não concordava com o conceito de ressureição; Luciano, considerava uma "admirável sabedoria", mas considerava que os seguidores de Cristo, adoravam um sofista "crucificado". 


-A filosofia passa por um século sem demasiado conflitos com a filosofia. No século II, seguinte alguns aspectos socioculturais, surgem os apologetas que trouxeram consigo os embates entre a fé e o saber. 

  • "Os apologetas são escritores cristãos que assumiram a tarefa de defender o Cristianismo contra os ataques de seus adversários, num esforço de munir a fé com argumentos racionais. [...] Destacou-se Clemente de Alexandria (150-215) que introduziu uma série de termos gregos (filosóficos) na linguagem cristã." (p. 36) 
  • Através de alguns apologetas, que introduziram alguns termos filosóficos na fé cristã originou-se uma incompatibilidade de ideias com a doutrina dos pensadores cristãos, e também a heresia que "[...] forçou os cristãos a formularem dogmas, usando noções filosóficas de essência, pessoa, substância, relações, etc." (p. 36) 

-Uma das primeiras concepções que foram tidas como hereges, foi o gnosticismo, que "é uma corrente filosófico-religiosa difusa que pretende superar tanto a crença como a filosofia para chegar à gnose, ou seja, a um conhecimento superior, intuitivo, e unificante pela divindade." (p. 36-37) 

  • "Os santos padres consideram o gnosticismo uma heresia, [...] viam nele a corrupção da verdadeira fé, negando a Deus como criador e sua onipotência em relação ao mal. Mas o gnosticismo não deixou de ser uma tentativa de filosofia cristã." (p. 38) 


-"No tempo de Marco Aurélio [...], o Cristianismo já contava com adeptos capazes de lidar com os pagãos com argumentos puramente racionais. É aí que aparece o problema do relacionamento entre o Cristianismo e a Filosofia." (p. 38)

 -Havia cristãos que estudavam a sabedoria e a literatura pagã, capazes de perceber as qualidades e os defeitos. Apesar de não terem uma escola cristã, os pensadores mesmo convivendo com o conhecimento pagão, já estavam convencidos na superioridade da Cruz (S.Justino e Taciano).

 

-Quando se convertiam, os cristãos não renunciavam todo o saber pagão, mas combinavam as verdades parciais dos filósofos com a verdade Cristã. 

  • "A partir do século IV, pensadores como Boécio, S. Agostinho, e Pseudo-Dionísio conseguiram dar conteúdo cristão ao platonismo." (p. 39) 

-Para São Justino, o logos, a razão eterna é a manifestação divina, que se fez carne em Cristo. De acordo com o pensador, a razão que pode fazer com que os homens conseguissem contemplar convenientes verdades religiosas antes que o Messias "clareasse" a verdade absoluta."

  •  Clemente de Alexandria, de certa forma complementou a ideia de Justino, o pensador gnóstico afirmava que "a filosofia preparou a humanidade para vinda de Cristo." (Strómata I, 5-28) "[...] A filosofia é o pedagogo que conduz à Cristo."


-Já para Agostinho de Hipona, "a fé e a razão convivem de maneira harmônica, numa estreita relação. [...] Primeiro, segundo ele, a inteligência prepara para a fé; depois a fé dirige e ilumina a inteligência. Finalmente a fé iluminada, iluminada pela inteligência, conduz ao amor." (p. 40) 

  •  "[...] A razão é um auxílio poderoso para encontrar, nas criaturas, semelhanças que esclareçam e façam inteligível o conteúdo da fé." (p. 41)


-Boécio faz uma divisão significativa entre filosofia e teologia. Sua ideia a respeito do conhecimento e sua lógica é profundamente influenciada por conceitos aristotélicos. Suas obras representam uma grande miscigenação cultural em harmonia com fé e razão.


-Apesar de haver diversos cristãos que conciliavam o conhecimento pagão com a sabedoria cristã, mas tal ponto de vista não era consenso entre os cristãos, por exemplo Tertuliano. 

  • "Segundo ele, para o cristão basta a fé: 'credo quia absurdum'. Cristianismo e filosofia são duas coisas inconciliáveis. Por isso é tão absurdo um cristão filósofo como um filósofo cristão." (p. 42) 

-"No começo a Palavra (Verbo/Lógos) já existia: a Palavra estava voltada para Deus, e a Palavra era Deus." (Jo 1,1) 

  • "Por isso tanto o judaísmo quanto a filosofia são prelúdios ou anúncio fragmentário, antecipação parcial da verdade que encontra plenitude no Cristianismo. Os filósofos, com suas sombras e luzes, foram para o paganismo o que foram os profetas para os judeus. A origem de toda luz é a mesma: o Verbo encarnado." (p. 43)

 -"A filosofia contribui para ordenação e o aprofundamento da fé cristã, assumindo um papel anciliar." (p. 44) 




Síntese: Aristóteles e seus principais conceitos.

 

  • Distinção entre o filosofar platônico e aristotélico: 

Aristóteles havia sido discípulo de Platão, mostrava-se insatisfeito com o fato de que seu mestre não houvesse explicado de forma adequada como as coisas materiais “participariam” das formas inteligíveis. Ao rejeitar a teoria das ideias, Aristóteles corria o risco de não admitir nada permanente, uma vez que as coisas estão em contínua mudança. Para superar o problema entre o ser e o devir, ele afirmou que as coisas, possuem uma essência que é universal. Alcançar a realidade mais profunda, significa conhecer a essência, aquilo que permanece perante as mudanças.  

A origem das ideias de Aristóteles, diverge de Platão pelos seguintes motivos. O nascimento das ideias nasce pela abstração, por meio da razão, que parte das imagens sensíveis (conhecimento sensível), elabora os conceitos universais (conhecimento inteligível). Para ele, nada há no intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos. A metafísica parte do conhecimento sensível. Cabe a ela buscar as causas universais, as mais distantes dos sentidos.   

Já para Platão, o conhecimento é dividido em graus. Na alegoria da caverna ele representa a passagem dos graus inferiores do saber aos superiores. O conhecimento vem através da dialética alcançando o mundo inteligível, onde é possível contemplar às ideias unas e imutáveis. As ideias gerais são hierarquizadas, no topo está o ideal de bem, a suprema beleza, em perfeição. Os seres não existem senão enquanto participam do bem. O mundo só existe na medida em que participa do mundo das ideias, é apenas sombra ou cópia. 

 

  • Teoria das Causas de Aristóteles: 

Aristóteles na teoria das causas vai dizer que tudo o que existe possui quatro fundamentos. Ou seja, as coisas existentes são o efeito de quatro causas; sendo elas:   


-Causa Material: É aquilo de que uma coisa é feita, é a base, o substrato, a matéria-prima de uma coisa. Tudo o que existe é feito de algo, já que, para o filósofo, não existe algo feito do nada. Portanto, uma das maneiras de entender o que uma coisa é, é entender quais são os materiais que compõem uma substância.  


-Causa Formal: É aquilo que faz com que uma coisa seja o que é, o formato que uma coisa assume. Para Aristóteles, tudo o que existe se distingue das demais coisas devido à forma única que ele possui. Causa Formal, é um modo de explicar o formato que uma substância está assumindo naquele momento. Quanto mais detalharmos os formatos, melhor poderemos dizer o que uma coisa é. Quanto mais complexa é uma coisa, mais complexo é o seu formato. Em uma perspectiva aristotélica, por exemplo, o animal racional é a causa formal de ser humano, porque animal racional é aquilo que faz ser humano ser aquilo que ele é, isto é, faz ser humano ser, ser humano.   

 

-Causa Eficiente:  É o que transforma a matéria para explicar quem fez a substância que estamos descrevendo. E se nada vem do nada, algo deve ter criado ou construído a substância que estamos analisando. Entender quem ou o que fez uma coisa, nos ajuda a entender o que essa coisa é. Por exemplo, uma pessoa doente que vai ao médico, e se cura através do tratamento, a causa eficiente (a cura da enfermidade) nesse sentido não seria o médico, mas a arte da medicina que o médico possui. Por isso, a causa eficiente no sentido estrito é aquilo que é de todo responsável pela origem de um processo de movimento.  


-Causa Final: O objetivo com que a coisa é feita, não tem a ver com um fim necessariamente, mas um propósito. Tudo o que existe foi criado com uma finalidade e essa finalidade diz muito sobre o que uma coisa é. Todas as coisas têm um propósito de existirem, um objetivo a ser cumprido. Isso descreve o porquê de algo existir. Aristóteles a descreve assim: “denomina-se causa como o fim, ou seja, aquilo em vista de quê”. Em outra passagem do livro ele utiliza como exemplo o caminhar em vista da saúde, de tal modo que a saúde seria a causa final do caminhar. 

 

  • Substância e Acidente: 

Aristóteles faz três distinções relevantes em sua teoria: substância-essência-acidente; ato-potência; forma-matéria. O filósofo reuniu o mundo sensível e inteligível de Platão, no conceito de substância. A substância é “aquilo que é em si mesmo”, podendo ser essenciais ou acidentais. Enquanto acidente, é o atributo que a substância pode ter ou não, sem deixar de ser o que é (Exemplo: Ser gordo, velho ou bonito, dentre outros atributos que não tira a essência da humanidade). No livro Metafísica Aristóteles argumenta:  

“Mesmo sendo dito em tantos significados, é evidente que o primeiro dos significados do ser é a essência, que indica a substância (de fato, quando perguntamos a qualidade de alguma coisa, dizemos que é boa ou má, mas não que tem três côvados ou que é homem; ao contrário, perguntamos sua essência, não dizemos que é branca ou quente, ou que tem três cúbitos, mas que é um homem ou que é um deus) Todas as outras coisas são ditas ser, enquanto algumas são quantidade do ser no primeiro significado, outras são qualidades dele, outras são afecções dele, outras, enfim, alguma coisa ou outra determinação desse tipo” - Aristóteles. Metafísica. São Paulo: Loyola, 2002. P.287 

 

  • Ato e Potência: 

Com o propósito de explicar o dilema em relação das mudanças na física, na metafísica, na psicologia e inclusive em sua lógica. Aristóteles argumenta que o ser se diz de diversas maneiras, entre eles em ato e o ser em potência. A mudança não tem como consequência o não ser, o nada, pois nasce de algo que potencialmente o ser é. De acordo com o conceito aristotélico, todo ser é uma substância formada de matéria e forma; a matéria é potência, o que tende a ser; a forma é o ato. O movimento é, a forma atualizando a matéria, é a passagem da potência ao ato, do possível ao real.  

Uma coisa em ato é causa de outra coisa que, no início, é em potência e, passa a ser em ato. De outro modo, para uma coisa que seja em potência ou que já tenha passado ao ato, há uma causa anterior que é em ato e, para ela, há outra causa anterior que a fez passar da potência ao ato, e assim progressivamente. Para Aristóteles, é impossível seguir com as causas até o infinito, sendo necessária, para tudo que existe, uma causa primeira. Esta causa primeira é o ato puro, chamada como motor primeiro e eterno. 

 

  • Virtudes em Aristóteles: 

Aristóteles em sua teoria da virtude chegou à conclusão de que a felicidade é a alma vivendo sob forma virtuosa. Pelo fato de o filósofo entender que a alma é constituída por duas partes, a irracional e a racional, e que a parte irracional em certo sentido participa da razão. A alma sendo puramente racional, terá que se harmonizar com uma virtude racional, que Aristóteles vai chamar de virtude intelectual. Esse tipo de virtude está relacionado com a aprendizagem, por isso necessita de experiência e tempo, e é produto do hábito, do costume. Nenhuma das formas de virtude se constitui em nós por natureza, pois nada do que existe por natureza pode ser alterado pelo hábito   

          Se o objetivo de nossa vida é alcançar a felicidade. Para alcançarmos a felicidade, precisamos ter bons hábitos, necessários para que possamos controlar nossas emoções, e poder viver racionalmente, viver racionalmente significa viver segundo a virtude. No seu livro ética a Nicômaco, Aristóteles identificou e estudou onze tipos de virtudes:  


“-Coragem: Já fizemos ver que ela é um meio termo entre o medo e a temeridade; [...] Será chamado corajoso com toda propriedade, então, o homem destemido em face de uma morte nobilitante, e de todas as circunstâncias em que haja um perigo real de morte, e as emergências da guerra são dessa natureza em seu mais alto grau.  


-Moderação: Dissemos que a moderação é o meio termo no tocante aos prazeres.  


-Liberalidade: Aparentemente ela é a observância em relação à riqueza, pois as pessoas liberais são louvadas [...] em relação a dar e obter riquezas – especialmente a respeito de dá-las. Por “riquezas” entendemos todas as coisas cujo valor é mensurável pelo dinheiro. [...]  


-Magnificência: À semelhança da liberalidade ela não se aplica a todos os atos relacionados com a riqueza, mas somente àqueles que tem a ver com gastos, e sob esse aspecto ela ultrapassa a liberdade em amplitude, pois como sugere o próprio nome ela consiste em um dispêndio consentâneo com seus objetivos e em grande escala. [...]  


-Orgulho: Considera-se magnânima a pessoa que aspira a grandes coisas e está à altura delas, pois quem aspira a grandes coisas sem estar à altura delas, é insensato, mas nenhuma pessoa dotada de excelência moral é insensata ou tola. [...]  


-Desprendimento: Ora: as pessoas desejam honrarias mais do que devem quanto menos do que devem; logo, é possível desejá-las como se deve; de qualquer modo, essa é uma disposição da alma que louvamos, por ser um meio-termo em relação à honra. [...]  


-Amabilidade: A amabilidade é a observância do meio termo em relação à cólera. [...] As pessoas que se encolerizam por motivos justos e com as pessoas certas, e além disso, como devem, quando devem e enquanto devem, são dignas de louvor. [...]  


-Sinceridade: Um homem desta espécie pode ser considerado homem de bem, pois as pessoas amam a verdade e são sinceras quando nada está em jogo, serão ainda mais sinceras quando algo estiver em jogo. [...]  


-Espirituosidade: Aqui parece haver igualmente uma espécie de convivência em que há lugar para o bom gosto, que neste caso consiste em dizer, e também ouvir, o que se deve e como se deve. [...]  

-Vergonha: Este sentimento não se coaduna com todas as idades, mas somente com a adolescência. De fato, pensamos que os adolescentes costumam envergonhar-se porque vivem em função de emoções, e, portanto, cometem muitos erros, mas são refreados pela vergonha. [...]   


-Justiça: Como as pessoas que infringem a lei parece injustas e as cumpridoras da lei parecem justas, evidentemente todos os atos conforme a lei são justos em certo sentido [...]. As determinações das leis bem elaboradas são boas e as leis elaboradas apressadamente não chegam a ser igualmente boas.”  Aristóteles. Ética a Nicômaco. 2.ed. Brasília: Ed. Da UnB, 1992.p.60-93 





RESUMO DE PSICOLOGIA SOCIAL: CONFORMIDADE E OBEDIÊNCIA

  1. Duas formas em que ocorre a conformidade segundo David G. Myers: A conformidade manifesta-se de inúmeras maneiras. David G. Myers, no...