Como Bruno Forte aponta nos tempos atuais a humanidade se depara com impasses que dão o estopim para que se pense um novo modo de ver, inserir e viver a teologia.
O sistema econômico vigente transpassa a ideia de apenas o consumo pode levar os homens há serem felizes, mas contrariamente, em dados alarmantes nos amplos aspectos da sociedade, demonstra que o capitalismo desenvolve mais problemas do que soluções benéficas. As pessoas estão marcadas pelo vazio/solidão, e necessitando de solidariedade, amor, de uma moralidade que complete e dê sentido para vida.
A existência através de uma concepção de Deus ou teológica, tornou-se essencial para muitos frente ao absurdo da vida e suas ocasionalidades que lhes trazem à tona o reflexo da alma contemporânea, ocultada até então por superficialidades materialistas. A crise civilizacional escancarou o vazio e o horror inconsciente dos homens. Diante desses impasses, um novo modo de conceber a teologia "renasce" como a luz no fim do túnel; a fé carrega consigo alguns dos atributos divinos: o amor, a misericórdia, a luz que torna os indivíduos iguais perante a criação do Senhor. Muito mais que apenas uma questão “ideológica” e religiosa, a fé completa e dá sentido de vida através de valores éticos e espirituais que a humanidade hoje carece. O viver em Deus, é viver para o próximo.
Além do mais, surge uma inquietação em busca de uma paixão na qual a vida volte a brilhar não apenas para si mesmo, mas também para o outro. A teologia, neste aspecto, pode também contribuir para investigar essa nova paixão em torno da moralidade de Deus, e assim poder expandir a capacidade do homem de pensar em um Todo (na humanidade, na natureza, na vida etc.) em prol do desenvolvimento da qualidade do viver.
Hoje em dia, decorrente das mudanças em aspectos globais, o contato entre as mais diversas teologias seria inevitável e este respectivo tópico é de suma importância para o bem-viver em uma sociedade amplamente globalizada, tal como Forte discorre, esse é um solo fértil e muito delicado para se debater. É fato que é preciso uma convivência pacífica entre as religiões, não há mais espaço para um “monopólio espiritual”. Há também muito esforço por parte dos teólogos cristãos em conciliar os bons frutos das diversas religiões com a essência da Salvação mediante Cristo, a questão recém-aberta é: a Salvação provém somente de Cristo?
A desigualdade social, principalmente nos países pobres, é outro fator na qual a teologia pode contribuir. A Teologia da Libertação desenvolvida por Gutiérrez se torna fundamental para o despertar da consciência e da alienação provida por séculos de exploração em países subdesenvolvidos. A situação econômica de dependência atual, que torna mais rico quem é rico, e mais pobre quem é pobre, além de ser um pecado espiritual, retira a dignidade humana transformando os pobres em máquinas para as classes/países dominantes usufruírem dos bens que a vida capitalista proporciona, privando a maioria desses bens.
É diante desse obstáculo que a teologia pode ajudar a romper os grilhões que sufocam e prendem os sujeitos explorados, para que assim consigam ter uma vida digna, que sejam capazes de fazer a própria história. O despertar da consciência, a opção e a visibilidade do clamor dos oprimidos é o primeiro passo na luta contra a dominação presente.
“Não se amoldem às estruturas deste mundo, mas transformem-se pela renovação da mente, a fim de distinguir qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que é agradável a ele, o que é perfeito.” (Rm 12, 2.)
Por quê Teologia? (Capítulo I)- Bruno Forte